CRÔNICA
(CONCEITO DEVE SER FEITO NO
CADERNO)
A crônica é um gênero
textual discursivo que narra situações cotidianas da vida urbana.
A crônica é um gênero textual típico dos séculos XIX, XX e
XXI, normalmente sendo encontrada em jornais ou revistas. Em muitos
casos, célebres cronistas – tais quais Lima Barreto ou Luís Fernando Veríssimo – reúnem suas
crônicas em livros.
Características
Veja, a seguir, as principais características da
crônica.
·
O fator principal que define a crônica é sua temática: crônicas abordam
assuntos vinculados ao cotidiano das cidades.
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Um bom cronista é aquele que narra situações banais sob uma ótica
particular e criativa.
·
É comum que esse tipo de texto tenha marcas claras de humor.
·
A linguagem da crônica costuma ser coloquial e simples. A leveza na
linguagem é típica do gênero.
·
Normalmente, as crônicas são publicadas em jornais, revistas e blogs.
Tipos de crônica
A produção de crônicas está diretamente ligada
à difusão da imprensa na sociedade. Foi por meio dos jornais que, a
priori, as crônicas começaram a circular na vida dos cidadãos. Entretanto, se
esse espaço de publicação ainda é o mais utilizado pelos cronistas, os tipos de
crônicas que existem são diversos. De algum modo, é possível dizer que
existem dois tipos de crônica: as narrativas e as jornalísticas.
·
Crônica narrativa: são aquelas que não
apresentam estruturas textuais argumentativas ou reflexivas predominantes.
Nesse caso, a crônica pode ser definida como um gênero literário marcado
pela narração de situações cotidianas sob uma ótica
individual.
·
Crônica jornalística: Diferentemente da
anterior, as crônicas jornalísticas misturam as tipologias textuais
narrativa e argumentativa. Isso porque, a partir da narração de fatos
cotidianos, os cronistas de jornal promovem reflexões e desenvolvem teses e
argumentos.
Normalmente, as crônicas jornalísticas
abordam assuntos de relativa importância social. Leia, a seguir,
uma crônica jornalística escrita por Lima Barreto diante de um fato,
infelizmente, cotidiano: a violência contra as mulheres.
Não
as matem
Esse
rapaz que, em Deodoro, quis matar a ex-noiva e suicidou-se em seguida, é um
sintoma da revivescência de um sentimento que parecia ter morrido no coração
dos homens: o domínio, quando même, sobre a mulher.
O
caso não é único. Não há muito tempo, em dias de carnaval, um rapaz atirou
sobre a ex-noiva, lá pelas bandas do Estácio, matando-se em seguida. A moça com
a bala na espinha, veio morrer, dias após, entre sofrimentos atrozes.
Um
outro, também, pelo carnaval, ali pelas bandas do ex-futuro Hotel Monumental,
que substituiu com montões de pedras o vetusto Convento da Ajuda, alvejou a sua
ex-noiva e matou-a.
Todos
esses senhores parece que não sabem o que é a vontade dos outros.
Eles
se julgam com o direito de impor o seu amor ou o seu desejo a quem não os quer.
Não sei se se julgam muito diferentes dos ladrões à mão armada; mas o certo é
que estes não nos arrebatam senão o dinheiro, enquanto esses tais noivos
assassinos querem tudo que é de mais sagrado em outro ente, de pistola na mão.
O
ladrão ainda nos deixa com vida, se lhe passamos o dinheiro; os tais
passionais, porém, nem estabelecem a alternativa: a bolsa ou a vida. Eles, não;
matam logo.
Nós
já tínhamos os maridos que matavam as esposas adúlteras; agora temos os noivos
que matam as ex-noivas.
[...]
O
esquecimento de que elas são, como todos nós, sujeitas, a influências várias
que fazem flutuar as suas inclinações, as suas amizades, os seus gostos, os
seus amores, é coisa tão estúpida, que, só entre selvagens deve ter existido.
Todos
os experimentadores e observadores dos fatos morais têm mostrado a inanidade de
generalizar a eternidade do amor.
Pode
existir, existe, mas, excepcionalmente; e exigi-la nas leis ou a cano de
revólver, é um absurdo tão grande como querer impedir que o sol varie a hora do
seu nascimento.
Deixem
as mulheres amar à vontade.
Não
as matem, pelo amor de Deus!
Lima Barreto, 1915.
·
Crônica humorística: Tanto nas crônicas
narrativas quanto nas jornalísticas, é muito comum que o humor seja uma das
tônicas do texto. O uso da ironia, de comparações inusitadas ou ainda a
tematização de assuntos cômicos por excelência são algumas das técnicas usadas
pelos cronistas.
Como fazer uma crônica
Para fazer uma boa
crônica, é preciso, inicialmente, ser um observador da sociedade. A
visão particular e inusitada do cronista é que confere originalidade ao gênero.
Além disso, é necessário usar uma linguagem leve, muitas vezes
coloquial, e procurar demonstrar como o cotidiano pode ser cheio de
significados.
Por Me. Fernando Marinho
Por Me. Fernando Marinho
A crônica é um gênero amplamente difundido no âmbito jornalístico.
Gostaria de fazer a
referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
MARINHO, Fernando. "Crônica
"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/redacao/cronica.htm. Acesso em 14 de maio de
2020.
ATIVIDADES
(SER FEITAS EM FOLHA SEPARADAS, ENTREGUE
NA ESCOLA DIA 25/05/2020)
São Paulo vai se recensear. O
governo quer saber quantas pessoas governa. A indagação atingirá a fauna e a
flora domesticadas. Bois, mulheres e algodoeiros serão reduzidos a números e
invertidos em estatísticas. O homem do censo entrará pelos bangalôs, pelas pensões,
pelas casas de barro e de cimento armado, pelo sobradinho e pelo apartamento,
pelo cortiço e pelo hotel, perguntando:
— Quantos são aqui?
Pergunta triste, de resto. Um
homem dirá:
— Aqui havia mulheres e
criancinhas. Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.
E outro:
— Amigo, tenho aqui esta mulher,
este papagaio, esta sogra e algumas baratas. Tome nota dos seus nomes, se
quiser. Querendo levar todos, é favor... (...)
E outro:
— Dois, cidadão, somos dois.
Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade
jamais sairá de meu quarto e de meu peito!
(Rubem
Braga. Para gostar de ler. v. 3. São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).)
1) O fragmento acima, em que há
referência a um fato sócio-histórico — o recenseamento —, apresenta característica
marcante do gênero crônica ao:
a) expressar o tema de forma
abstrata, evocando imagens e buscando apresentar a ideia de uma coisa por meio
de outra.
b) manter-se fiel aos
acontecimentos, retratando os personagens em um só tempo e um só espaço.
c) contar história centrada na
solução de um enigma, construindo os personagens psicologicamente e
revelando-os pouco a pouco.
d) evocar, de maneira satírica, a
vida na cidade, visando transmitir ensinamentos práticos do cotidiano, para
manter as pessoas informadas.
e) valer-se de tema do cotidiano
como ponto de partida para a construção de texto que recebe tratamento estético.
2) Leia, em primeira instância, o que nos diz o crítico literário Antônio
Cândido acerca do gênero “crônica”:
A crônica não é um “gênero
maior”. Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe
dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos, e poetas. Nem
se pensariam em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse.
Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor.
“Graças a Deus” – seria o caso de
dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós.
Antônio
Cândido
Tendo em vista os conhecimentos
de que dispõe a respeito de tal gênero, explicite suas considerações sobre o
fragmento acima, levando em consideração as características que demarcam a
modalidade em questão.
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3) Explicite seus conhecimentos acerca da crônica
argumentativa.
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4) O texto que segue
(fragmentos) é de autoria de Mário Prata. Lendo-o, procure responder ao que se
pede:
Na fila da liberdade
[...]
Pois foi numa dessas filas que o fato se deu.
Era uma bela fila, de umas dez pessoas. E em
supermercado, com aqueles carrinhos lotados, a gente ali olhando a mocinha
tirar latinha por latinha, rolo por rolo de papel higiênico, aquela coisa que
não tem fim mesmo. E naquela fila tinha um garotinho de uns dez anos, que
existe apenas uma palavra para definir a figurinha: um pentelho. Como muito bem
define o Houaiss: “pessoa que exaspera com sua presença, que importuna, que não
dá paz aos outros”.
Pois ali estava o pentelhinho no auge de sua
pentelhação. Quanto mais demorava, mais ele se aprimorava. E a mãe, ao lado,
impassível. Chegou uma hora que o garoto começou a mexer nas compras dos
outros. Tirar leite condensado de um carrinho e colocar no outro. Gritava, ria,
dava piruetas. Era o reizinho da fila. E a mãe, não era com ela.
Na fila ao lado (aquela de velhos, deficientes e
grávidas), tinha um casal de velhinhos. Mas velhinhos mesmo, de mãos dadas.
Ali, pelos oitenta anos. A velhinha, não aguentando mais a situação, resolveu
tomar as dores de todos e foi falar com a mãe. Que ela desse um jeito no
garoto, que ela tomasse uma providência. No que a mãe, de alto e bom tom:
-Educo meu filho assim, minha senhora. Com
liberdade, sem repressão. Meu filho é livre e feliz. É assim que se deve educar
as crianças hoje em dia.
A velhinha ainda ameaçou dizer alguma coisa, mas se
sentiu antiga, ultrapassada. Voltou para a sua fila. Só que não
encontrou o seu marido, que havia sumido.
Não demorou muito e voltou o marido com um galão de água de cinco
litros e, calmamente, se aproximou da mãe do pentelho, abriu e entornou tudo na
cabeça da mulher.
-O que é isso, meu senhor?
O velhinho colocou o vasilhame (que palavra antiga)
no seu carrinho e enquanto a mulher esbravejava e o pentelho morria de rir,
disse bem alto:
-Também fui educado com liberdade!!!
Foi ovacionado.
Trata-se de uma
narrativa, sem dúvida. Contudo, uma narrativa diferente das convencionais – o
que nos atesta se tratar de uma crônica. Dessa forma, em se tratando do
narrador, procure ressaltar o que compreendeu acerca desse importante elemento
referente à modalidade em estudo:
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