quinta-feira, 14 de maio de 2020

Língua Portuguesa - Profª Heloísa Ferraz

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA X PRECONCEITO LINGUÍSTICO
(CONCEITO FEITO NO CADERNO)

         Quando apontamos uma variação linguística como erro, comentemos o que chamamos de preconceito linguístico.
         A língua é dinâmica e está sujeita a inúmeras variações. Essa peculiaridade de toda e qualquer língua é o que chamamos de variação linguística, que está sujeita ao contexto histórico, geográfico e sociocultural no qual estão integrados.
         Essa pluralidade da língua é facilmente observada no Brasil. Um país de extensão territorial e multiplicidade cultural significativas. As variações linguísticas acontecem por que, tendo em vista que a função primordial da língua é a comunicação, os falantes arranjam e rearranjam a língua de acordo com a necessidade de interação social.
         Uma vez que essas variações visam à comunicação. Jamais devemos considera-las erros. Ao apontarmos essas alterações como erro, estamos cometendo o que chamamos de “PRECONCEITO LINGUÍSTICO”. Como todo preconceito, age-se maquiavelicamente em defesa de um dado status imposto como mais adequado e, por vezes, mais “bonito”.
         Infelizmente, esse equivocado comportamento é corriqueiro aqui no Brasil. Você já deve ter visto afirmações pejorativas em relação à fala de quem mora no interior, por exemplo. Esse julgamento, em vez de contribuir para que sigamos em um processo educacional democrático, cria barreiras para o enriquecimento de nosso patrimônio cultural. A língua é responsável, segundo BIDERMAN ¹ (1899), por transmitir a herança cultural de um povo que carrega aspectos de vida, das crenças e valores de uma sociedade.

         A vida me chegava pelos jornais nem pelos livros
         Vinha da boca do povo na língua errada do povo
         Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo de nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
Evocação do Recife, Manuel Bandeira
Algumas marcas do regionalismo no Brasil:
è Abestado – bobo, tolo
è Aberobado – maluco
è Avalie -imagine
è Pão de sal – pão francês
è Macaxeira – mandioca, aipim
è Arretado – legal, pessoa forte, concentrada, determinada
è Banda – lado, pedaço
è Bila – bola de gude
è Semáforo – sinal, sinaleiro, farol
É importante destacar ainda que as reflexões apresentadas anteriormente não são em defesa da queda da gramatica e não respeito à norma-padrão. É necessário, é claro, que tenhamos consciência de que há normas que regem e são responsáveis por certa organização de nossa língua. Porém, não devemos nos esquecer do que é gramatical e do que é a língua, em movimento em busca de alcançar sua função primordial: a comunicação.
Nota: ¹BIDERMAN , M.T.C. O léxico, testemunha de uma cultura. Actas do XIX Congresso Internacional de Linguística e Filoloxía Românicas. Universidade de Santiago de Composta, 1989.


ATIVIDADES
FEITAS EM FOLHA SEPARADAS, E ENTREGUE NA ESCOLA NO DIA 25/05/2020

(ENEM)
Mandiga – Era a denominação que, no período das grandes navegações, os portugueses davam à costa ocidental da África. A palavra se tornou sinônimo de feitiçaria porque os exploradores lusitanos consideram bruxos os africanos que ali habitavam -é que eles davam indicações sobre a existência de ouro na região. Em idioma nativo mandiga designava terra de feiticeiros. A palavra acabou virando sinônimo, sortilégio.
                                 (COTRIM,M. O pulo do gato 3. São Paulo: Geração Editorial, 2009, Fragmentos)

1)    No texto, evidencia-se que a construção do significado da palavra mandiga resulta de um (a).

a)    Contexto sócio -histórico
b)    Diversidade técnica
c)    Descoberta geográfica
d)    Apropriação religiosa
e)    Contraste cultural




(FUVEST)

2)    “A correção da língua é um artificialismo, continuei episcopalmente. O natural é a incorreção. Note que a gramática só se atreve a manter o bico quando escrevemos. Quando falamos, afasta-se para longe, de orelhas murchas.”
(LOBATO, Monteiro. Prefácios e entrevistas.)
a)    Tendo em vista a opinião do autor do texto, pode-se concluir corretamente que a língua falada é desprovida de regras? Explique sucintamente.
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b)    Entre a palavra “episcopalmente” e as expressões “meter o bico” e “orelhas murchas”, dá-se um contraste de variedades coloquiais, que aí aparecem, por outras equivalentes, que pertençam à variedade padrão.
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Enem 2009
A norma-padrão está vinculada à ideia de língua modelo, seguindo as regras gramaticais de acordo com o momento histórico e com a sociedade
A norma-padrão está vinculada à ideia de língua modelo, seguindo as regras gramaticais de acordo com o momento histórico e com a sociedade
3 ) Quanto às variantes linguísticas presentes no texto, a norma-padrão da língua portuguesa é rigorosamente obedecida por meio
a) do emprego do pronome demonstrativo “esse” em “Por que o senhor publicou esse livro?”.
b) do emprego do pronome pessoal oblíquo em “Meu filho, um escritor publica um livro para parar de escrevê-lo!”.
c) do emprego do vocativo “Meu filho”, que confere à fala distanciamento do interlocutor.
d) da necessária repetição do conectivo no último quadrinho.
Enem 2010
S.O.S Português
Por que pronunciamos muitas palavras de um jeito diferente da escrita? Pode-se refletir sobre esse aspecto da língua com base em duas perspectivas. Na primeira delas, fala e escrita são dicotômicas, o que restringe o ensino da língua ao código. Daí vem o entendimento de que a escrita é mais complexa que a fala, e seu ensino restringe-se ao conhecimento das regras gramaticais, sem a preocupação com situações de uso. Outra abordagem permite encarar as diferenças como um produto distinto de duas modalidades da língua: a oral e a escrita. A questão é que nem sempre nos damos conta disso. 
S.O.S Português. Nova Escola. São Paulo: Abril, Ano XXV, nº- 231, abr. 2010 (fragmento adaptado).

4 ) O assunto tratado no fragmento é relativo à língua portuguesa e foi publicado em uma revista destinada a professores. Entre as características próprias desse tipo de texto, identificam-se marcas linguísticas próprias do uso
a) regional, pela presença do léxico de determinada região do Brasil.
b) literário, pela conformidade com as normas da gramática.
c) técnico, por meio de expressões próprias de textos científicos.
d) coloquial, por meio do registro de informalidade.
e) oral, por meio do uso de expressões típicas da oralidade.
​"Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das suas diversas modalidades regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação."
                   Celso Cunha. Nova gramática do português contemporâneo. Adaptado.

5) A partir da leitura do texto, podemos inferir que uma língua é:
a) conjunto de variedades linguísticas, dentre as quais uma alcança maior valor social e passa a ser considerada exemplar.
b) sistema que não admite nenhum tipo de variação linguística, sob pena de empobrecimento do léxico.
c) a modalidade oral alcança maior prestígio social, pois é o resultado das adaptações linguísticas produzidas pelos falantes.
d) A língua padrão deve ser preservada na modalidade oral e escrita, pois toda modificação é prejudicial a um sistema linguístico

​“A variação é inerente às línguas, porque as sociedades são divididas em grupos: há os mais jovens e os mais velhos, os que habitam numa região ou outra, os que têm esta ou aquela profissão, os que são de uma ou outra classe social e assim por diante. O uso de determinada variedade linguística serve para marcar a inclusão num desses grupos, dá uma identidade para os seus membros. Aprendemos a distinguir a variação. Quando alguém começa a falar, sabemos se é de São Paulo, gaúcho, carioca ou português. Sabemos que certas expressões pertencem à fala dos mais jovens, que determinadas formas se usam em situação informal, mas não em ocasiões formais. Saber uma língua é ser “poliglota” em sua própria língua. Saber português não é só aprender regras que só existem numa língua artificial usada pela escola. As variações não são fáceis ou bonitas, erradas ou certas, deselegantes ou elegantes, são simplesmente diferentes. Como as línguas são variáveis, elas mudam.”
(FIORIN, José Luiz. “Os Aldrovandos Cantagalos e o preconceito linguístico”. In O direito à fala. A questão do preconceito linguístico. Florianópolis. Editora Insular, pp. 27, 28, 2002.)

6) Sobre o texto de José Luiz Fiorin, é incorreto afirmar:
a) As variações linguísticas são próprias da língua e estão alicerçadas nas diversas intenções comunicacionais.
b) A variedade linguística é um importante elemento de inclusão, além de instrumento de afirmação da identidade de alguns grupos sociais.
c) O aprendizado da língua portuguesa não deve estar restrito ao ensino das regras.
d) As variedades linguísticas trazem prejuízos à norma-padrão da língua, por isso devem ser evitadas.










Bons Estudos !!!!!
Profª Heloisa Ferraz
Sauda

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